23/09/2021 às 15h18min - Atualizada em 23/09/2021 às 16h00min

Mais livros e menos redes sociais

(*) Fernanda Letícia de Souza

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SALA DA NOTÍCIA NQM
Divulgação
Tecnologia é sinônimo de progresso e de evolução. O acesso facilitado a informações sempre atualizadas permite que a nova geração, mais conhecida como nativos digitais, se destaque no mercado de trabalho, navegando com maestria pela internet. Com base nestas informações, pais e mães permitem o acesso de seus filhos às telas cada vez mais precocemente. Mas será que não estamos criando alienados digitais?

De acordo com dados do relatório “Leitores do Século 21 - Desenvolvendo Habilidades de Alfabetização em um Mundo Digital”, a familiaridade dos nativos digitais com a tecnologia não os torna automaticamente habilitados para compreender e usar de modo eficaz o conhecimento disponibilizado na internet. A pesquisa sugere que, ao contrário do que acreditávamos, os adolescentes nativos digitais são, em sua grande maioria, “incapazes de compreender nuances ou ambiguidades em textos online, localizar materiais confiáveis em buscas de internet ou em conteúdo de e-mails e redes sociais, avaliar a credibilidade de fontes de informação ou mesmo distinguir fatos de opiniões”.

O neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, em seu mais recente best seller “A fábrica de cretinos digitais”, apresenta dados concretos de como os dispositivos digitais estão afetando de forma séria o desenvolvimento neural de crianças e adolescentes. Pela primeira vez na história da humanidade, temos uma geração com QI (quociente de inteligência) abaixo dos pais. Segundo Michel, quando o tempo de exposição à tela aumenta, vários fatores da inteligência são afetados, dentre eles a linguagem, a concentração, a memória e a cultura, o que gera impactos diretos no desempenho acadêmico.

O uso dos dispositivos digitais em excesso diminui o tempo dedicado às interações intrafamiliares, fundamentais no desenvolvimento da linguagem e do emocional; superestimula a atenção, provocando distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade; e aumenta o índice de sedentarismo pela falta da prática de esportes, o que afeta o desenvolvimento corporal e a maturação cerebral.

As consequências vão desde dificuldades de inserção no mercado de trabalho até problemas no exercício da cidadania. Afinal, pessoas, incapazes de compreender e interpretar textos de maneira eficiente e de selecionar fontes confiáveis, estão menos aptas a ocupar cargos de alta complexidade, sendo presas fáceis de toda “desinformação” que também circula na internet.

De acordo com Andreas Schleicher, diretor de educação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), “são a aprendizagem tradicional e o engajamento de professores que farão a diferença em dar aos alunos a capacidade de entender diferentes perspectivas em um texto e serem capazes de identificar nuances e opiniões”.

A pandemia, com a necessidade da migração de boa parte do ensino para o formato online, contribuiu de forma negativa em todo este processo, pois aumentou o tempo de exposição às telas e substituiu o professor pelas ferramentas de busca.

Se os dados apontam que a “aprendizagem tradicional” é o caminho para capacitarmos de forma eficaz nossos estudantes e formarmos cidadãos atuantes, talvez seja preciso retroceder para avançar. Valorizar o papel do professor, já tão desacreditado e criticado, pode ser a salvação para esta geração que precisa de mais livros e menos redes sociais.

(*) Fernanda Letícia de Souza é especialista em Fisiologia do exercício e prescrição do exercício físico e professora da área de Linguagens Cultural e Corporal nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Internacional - Uninter.  
 
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