17/05/2021 às 12h05min - Atualizada em 18/05/2021 às 00h00min

“Não sou eu que estou falando”

Luís Fernando Lopes (*)

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SALA DA NOTÍCIA NQM
Divulgação
Uma fala que se tornou comum para alguns líderes religiosos, políticos, jornalistas e comunicadores em geral é a expressão “não sou eu que estou falando”. Antes dela, geralmente é citada uma passagem bíblica, uma notícia, uma frase de efeito, entre outras, e é utilizada como fundamento para, de alguma forma, persuadir os receptores da mensagem.

Não obstante à pseudoneutralidade que se pretende aparentemente apresentar, o próprio fato de utilizar a expressão “não sou eu que estou falando” já é no mínimo paradoxal. Ainda mais quando se constata que a fala, a passagem, o texto ou qualquer elemento que se utilize como justificativa foi previamente escolhido e preparado para transmitir determinada mensagem com uma intenção bem definida.

Ora, mas se uma escolha ocorreu, por que fugir da responsabilidade pelo que se afirma? Porque reproduzir – ou mesmo conferir – uma interpretação própria a determinada notícia, citação, passagem bíblica ou qualquer outra fonte para depois justificar-se com a alegação de que quem está dizendo é a fonte e não seu comunicador?

É um procedimento comum nas ciências (particularmente nas ciências humanas) fazer inferências, deduções e chegar a resultados e novas afirmações com base naquilo que já foi produzido. Contudo, quem pesquisa assume a responsabilidade pelo que afirma e pelas opções teórico-metodológicas que faz. Por isso, o resultado de um trabalho de pesquisa precisa ser avaliado publicamente por quem possui competência para isso.

Já na comunicação em massa os filtros são outros e as reais intenções nem sempre estão manifestas. Por vezes parece que se busca uma reação não refletida, automática de amor ou ódio, cujas consequências para a sociedade podem ser catastróficas. Sob a égide de uma falsa liberdade de expressão atenta-se contra a vida e a própria liberdade.

O remédio para tal situação, se é que é possível falar assim, não parece ser outro senão uma educação de qualidade. Aquela na qual os sujeitos sejam realmente livres de amarras ideológicas, sem cair no contrassenso da neutralidade. A educação é um processo cultural de humanização e, como tal, repleta de intencionalidades. A possibilidade de negar esse fato o confirma.

Aqui seria possível completar dizendo que “não sou eu que digo isso e sim os livros de Filosofia da Educação e outros”.  Por trás, ou junto com o que se fala, está a pessoa que fala. Qual a intenção, ou por que se quer negá-la? Discursos estão carregados de intencionalidades, assim como as palavras estão carregadas de significados. Então, por que alguns insistem em fugir da responsabilidade do discurso assumido, proferido? Se a resposta dependerá da consciência de cada um, mais uma vez a educação livre e libertadora se torna um imperativo.

(*) Luís Fernando Lopes é doutor em Educação, professor do Curso de Filosofia da Área de Humanidades do Centro Universitário Internacional UNINTER
 
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