29/11/2023 às 09h30min - Atualizada em 29/11/2023 às 18h30min
Personalidades negras trocam experiências e debatem como tornar a sociedade mais justa e igualitária em evento do escritório M3BS Advogados
Racismo estrutural, diferença salarial, intolerância religiosa e a falta de negros em cargos de liderança foram alguns dos assuntos abordados no evento "Refletindo a Consciência Negra"
"Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. A conhecida frase da filósofa Angela Davis foi o eixo principal do evento “Refletindo a Consciência Negra”, realizado no último dia 23, pelo escritório M3BS Advogados, na sede do Ibmec, em São Paulo. Novembro, mês da Consciência Negra, o escritório reuniu quatro personalidades negras para dividirem suas experiências e provocar uma reflexão sobre o combate ao racismo estrutural no Brasil.
O encontro teve como objetivo trazer reflexões importantes sobre o negro na sociedade e na economia. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 56,1% da população brasileira autodeclaram-se pretas e pardas, o que corresponde a mais de 119 milhões de pessoas.
“Discutir o passado, o presente e como as instituições podem contribuir com uma nova visão de futuro, ou seja, um espaço inclusivo e inspirador em que pessoas de todas as origens poderão se reunir para aprender, compartilhar experiências e fortalecer o compromisso com a luta contra o racismo e a discriminação racial é extremamente relevante para o escritório e para a população em geral”, explica Luis Borrozzino, sócio do M3BS.
O mediador, Davi Cunha, coordenador da área de Licitações e Negócios Públicos do M3BS Advogados, começou falando da importância de todos terem a consciência que há um histórico de mais de três mil anos de escravidão que precisa ser levado em conta. “É preciso olhar para o futuro e entender se, o presente é o que queremos para o futuro. Olhar para o agora e ver que os impactos da escravidão ainda refletem no dia a dia. Afinal, combater o racismo é uma luta diária”, diz.
Daniele Campos, coordenadora das pautas antidiscriminatórias do Meu Curso, membro das comissões Verdade Sobre a Escravidão Negra e Igualdade Racial na OAB/SP (Ordem dos Advogados do Brasil – sede São Paulo), abordou os aspectos históricos da comunidade afrodescendente. “Mesmo a população brasileira sendo, em sua maioria, preta ou parda, ainda temos que trazer esse tema à tona. Um assunto que começou há mais de 500 anos. Somos o país que tem mais negros fora da África, não era para termos o racismo”, comentou ao ressaltar a importância de sensibilizar e provocar uma conscientização diária.
Daniele ainda ressaltou que mulheres negras seguem ganhando salários, em média, 45% inferiores que mulheres não negras. “Durante a pandemia, o número de mulheres negras que empreenderam aumentou, e muito. Opção? Não, necessariamente. É o que chamamos de empreendedorismo compulsório, empreender não só porque perdeu o emprego, mas por sobrevivência.”
A influência religiosa nas instituições e empresas foi o tema da palestra do especialista em gestão e políticas públicas Thiago Messias. “Segundo o IBGE, nós brasileiros somos uma maioria católica, mas isso não significa que não podemos ou devemos olhar para as outras religiosidades e, inclusive para quem não tem. A realidade é que muitas pessoas não se sentem à vontade no ambiente de trabalho, local em que passamos a maior parte do nosso dia, por causa da religião. Temos que entender e aceitar, em todos os ambientes, as diferentes culturas e religião”, disse. Thiago também mencionou o 2º Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe, organizado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas e pelo Observatório das Liberdades Religiosas com apoio da Representação da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) no Brasil. Divulgado em janeiro deste ano, o relatório apontou que, no ano de 2020, houve uma queda no número de casos de agressões por intolerância religiosa em relação aos anos anteriores analisados. Para ele, essa queda é reflexo da pandemia, período em que as pessoas permaneceram mais tempo em suas casas. “Minha religiosidade faz parte da minha essência, da minha ancestralidade e, não é justo deixar isso de lado para me manter na empresa. Existir uma conduta não impede a pessoa de expressar sua religiosidade”, finalizou.
Ines Borges, mentora de pessoas e empresas, sócia-diretora da inovação e produto na Edtech D9656, com Trilha de Cursos Exclusivos em Saúde Suplementar abordou a ascensão social na saúde suplementar. “Ter acesso à saúde de qualidade é o terceiro desejo dos brasileiros, atrás apenas da educação e da casa própria. E, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) não tem dados consolidados por raças. Não há como saber quantos negros tem acesso à saúde suplementar. É preciso ter marcadores, independente de ser saúde particular, porque é importante saber o quanto esse acesso cresceu. Outro ponto que merece atenção é que, hoje, em média 690 operadoras e aproximadamente apenas nove são CEO. Na saúde, quando se busca um cuidado, a maioria está em estado de vulnerabilidade e, isso é mais sensível ainda quando falamos em pretos”, complementa.
Liderança não é um cargo e sim um processo que é conquistado, foi assim que o especialista em tecnologia e inovação Pablo Juan X, destaque em inovação na saúde pela Forbes, em 2020, começou sua apresentação sobre a presença minoritária de negros em cargos de liderança e os caminhos para mudar esse cenário. “Sabemos que, quando falamos em negros, é preciso se empenhar mais, ser mais ousado para conseguir um cargo de liderança e ter seu próprio negócio. Para ser líder é necessário escutar as pessoas. Nem sempre o que estão falando é o que querem dizer, é preciso entender os sinais. E, ter esse contato com o liderado é fundamental. Mesmo porque, no final, são sempre pessoas. Após expediente são pessoas”. Em sua apresentação, Pablo destacou a importância dos “4 poderes”: o legítimo que está no inconsciente coletivo (por exemplo, na igreja e na monarquia em que o poder é exercido por um cargo superior); o carismático (que envolve como usar seu carisma para influenciar outra pessoa); o da recompensa (a reciprocidade influencia na relação com as pessoas. Então, gere reciprocidade com técnicas para se conectar com as pessoas); o por punição (em que se impõe a influência e persuasão por medo da punição, quando não ocorre naturalmente a persuasão) e, o poder por know-how (quando você sabe mais sobre determinado assunto, e isso faz com que as pessoas te respeitem mais). “Mas, independentemente do poder. Nada substitui o resultado, mesmo porque ele substitui todos os caminhos tortuosos pelos quais você passou”, encerrou Pablo.
Ao final do encontro foram distribuídos kits da linha Trá Lá Lá Kids - Crespos Incríveis da Phisalia, um dos apoiadores do evento. O debate está disponível, na íntegra, no link: Stream em direto de M3BS Advogados - YouTube
Este conteúdo foi distribuído pela plataforma SALA DA NOTÍCIA e elaborado/criado pelo Assessor(a):
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