04/09/2024 às 17h49min - Atualizada em 04/09/2024 às 20h12min

Distopia 'Um Céu de Assombro' entra em cartaz no Teatro Cacilda Becker

Com direção de Kleber Montanheiro e texto de Daniel Veiga, espetáculo retrata um mundo devastado e discute o sentimento de não sabermos lidar com o luto e a angústia sobre o que está por vir

Pombo Correio Assessoria de Comunicação
POMBO CORREIO ASSESSORIA DE COMUNICAçãO
Fotos de Denny Naka

Idealizado e escrito logo depois da pandemia de Covid-19, o distópico Um Céu de Assombro revela um diálogo entre duas pessoas em uma terra devastada, tentando lidar com a incerteza do futuro e o luto por aqueles que se foram. O espetáculo, com texto de Daniel Veiga, direção de Kleber Montanheiro e elenco formado por Daniela Flor e Daniel Costa, tem sua temporada de estreia no Teatro Cacilda Becker de 12 a 29 de setembro.

A atriz e idealizadora da montagem Daniela Flor conta que a ideia de criar o espetáculo surgiu para expressar a necessidade de estar em cena após mais de dois anos de estagnação durante a pandemia de Covid-19.

“A peça veio de tudo o que estava acontecendo no mundo e principalmente no Brasil, de um presidente que estava sem nenhum olhar para isso, tirando sarro das pessoas que morreram, amigos próximos, familiares. E, como atriz, como artista, me veio a necessidade de transformar todos aqueles sentimentos em arte, que é a nossa função, transformar o mundo que a gente vive em arte, para conseguirmos deglutir, digerir, devolver como arte”, revela.

Durante a busca por uma dramaturgia que desse conta de todas essas inquietações, os artistas procuraram o autor Daniel Veiga, que havia escrito o texto curto “Coincidente”. A obra retratava um casal em situação de escombros e foi usada como disparadora para a criação de Um Céu de Assombro. “O projeto almeja relatar nosso tempo, reconstruir ruínas e unir escombros, buscando reencontrar a identidade em meio ao caos psicológico, emocional, profissional, fraterno, monetário, social e institucional”, acrescenta Daniela Flor.

A trama se passa em um futuro devastado, no qual dois estranhos, potencialmente inimigos, se comunicam pelo rádio. De um dos lados da linha, está um homem intelectual que passa os dias diante de um aparelho de comunicação tentando contato com a esposa que partiu. Do outro, está uma mulher soldado que busca ajuda após ter desertado e ter sido ferida pelo próprio capitão. Cada um está em meio aos destroços do que um dia foram prédios.

A ação avança tensa, dramática, lacunar e um jogo se instaura entre os dois em que não sabemos bem quem é quem, quem está falando a verdade e se alguma relação entre eles se estreitará. Entre escombros e ruínas, a trama avança entrecortada por ruídos, silêncios, estações cheias de diálogos fragmentados e corpos arruinados, trazendo o vislumbre incerto do que pode vir a ser da humanidade. Eles especulam o que virá para nós e o que será de nós, que dita o tom de isolamento e de desolação.

“Acho que Um Céu de Assombro é uma forma também de juntarmos essas angústias, de fazer um grande memorial disso tudo, das pessoas que perderam entes queridos, dessa forma. É um pouco fazer esse choro coletivo, esse entendimento coletivo de tudo isso, que ninguém estava sozinho”, antecipa Dani Flor.

Para contar essa história, a encenação e a dramaturgia se apoiam em um grande relógio em cena, inspirado no projeto Doomsday Clock, criado em 1947 pelo grupo Atomic Scientists para alertar a população mundial sobre o quão rápido a humanidade se aproxima do fim do mundo, representado pela meia-noite. A cada catástrofe ambiental, pandemia, guerra ou ameaça nuclear, os ponteiros avançam alguns segundos (atualmente estamos há 90 segundos do fim). No entanto, decisões políticas e eventos positivos fazem o tempo retroceder.

“O nosso relógio também tem essa marca do fim do mundo à meia-noite e ele anda um pouco pra trás e um pouco pra frente durante o espetáculo. Então, ele vai mostrando, contando um pouco a história dessas personagens que estão à iminência de algo aterrorizante, né? A encenação traz esse distanciamento, esse futuro distópico como um distanciamento para poder criar uma reflexão mesmo”, explica o diretor e cenógrafo Kleber Montanheiro.

A cenografia, conta o encenador, ainda se apoia em elementos e fragmentos, como a areia disposta no piso, para criar uma ideia de escombros, de lugar desértico. “A ideia é trabalhar com esses signos da destruição. Mesmo num escombro, mesmo na destruição, construímos uma beleza estética visual que aproxima a plateia e, ao mesmo tempo, cria um distanciamento acerca do que a estamos falando, de quem somos nós, do que estamos fazendo aqui e por que estamos caminhando para este fim”, complementa.
 

Ficha Técnica
Idealização: Daniela Flor
Texto: Daniel Veiga
Direção e Cenário: Kléber Montanheiro
Elenco: Daniela Flor e Daniel Costa 
Ass. Direção: João Pedro Ribeiro
Direção Musical: Suka Figueiredo
Coreografias: Andressa Secchin 
Figurino: Jay Boggo
Iluminação: Karen Mezza
Vídeos e Fotos: Denny Naka
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produção: Movicena Produções (Amanda Chaptiska) 
Realização: Lagartixa Preta Produções 
Projeto contemplado pela 18ª edição do Prêmio Zé Renato

Sinopse
Num futuro devastado, dois estranhos se comunicam pelo rádio: um homem em busca da esposa desaparecida e uma mulher ferida, sua potencial inimiga, em busca de ajuda. Entre escombros e ruínas, a trama avança entrecortada por estações cheias de diálogos fragmentados e corpos arruinados, trazendo o vislumbre incerto do que pode vir a ser da humanidade.

Serviço
Um Céu de Assombro, de Daniel Veiga
Temporada: 12 de setembro a 29 de setembro 
Quinta a sábado às 21h
Domingo às 19h

Teatro Cacilda Becker– Rua Tito, 295 - Lapa
Ingressos: Gratuitos, disponíveis na Sympla
Classificação: 12 anos
Duração: 80 minutos
Capacidade: 198 lugares


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DOUGLAS DE PAULA PICCHETTI
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