investing.com Ao longo dos últimos nove anos, a bitcoin, a mais negociada das criptomoedas, teve altas e baixas, desde a subida para 300 dólares em 2013, US$ 20.000 em 2017 e chegou a US$ 60.000 em 2021. Na última segunda-feira, 20 de setembro, porém, a bitcoin operou em cerca de 43 mil dólares, num dia de tensão no mercado e baixas nas Bolsas de todo o mundo.
Tramita na Câmara dos Deputados do Brasil um texto para regulamentar as criptomoedas, mas elas não têm ainda regulamentação específica no país e não são poucas as pessoas que relatam ter sofrido golpes nesse mercado. Em agosto deste ano, a operação Kryptos revelou e conseguiu desarticular, no Rio de Janeiro, uma organização criminosa que promoveu fraudes bilionárias no universo das criptomoedas.
Mas o chamado "faraó das bitcoins", Glaidson dos Santos, um ex-garçom, parece ser apenas a ponta de um grande iceberg com o qual o mundo está em rota de colisão. "A bitcoin segue um curso na direção das cinzas, inevitavelmente”, vaticina o economista, jornalista e professor de relações internacionais José Carlos Assis.
Assis vem sustentando que a economia mundial caminha para uma crise gigantesca que poderá ser provocada pelo mercado de bitcoins. Ele diz não acreditar que tem “o dom da profecia”. “Se eu o tivesse seria Deus e, se assim fosse, a primeira coisa que faria seria isolar o Brasil da crise mundial que vem por aí”, desabafa.
Para ele, “o sistema financeiro é um bicho complexo. Move-se por percepções, não por fatos e decisões”. De acordo com essa visão, as bolsas quebram não porque tenham algum desequilíbrio de fundo na oferta e demanda de ações, mas porque alguém, ou alguns, acham que ela vai quebrar. “Para transformar suas aplicações em dinheiro vivo, essas pessoas vendem tudo que têm em ações e vão em busca de algum ativo real. Outros, percebendo que isso está acontecendo, vendem também suas ações e deixam de comprar. É o famoso efeito manada. De repente todo mundo vende e ninguém compra. E aí a bolsa quebra, inapelavelmente. Instala-se o caos financeiro, que afeta também a economia real”, explica o professor.
Assis acredita que “não há remédio contra isso. É um movimento estritamente subjetivo”. Assim, "algo tão insignificante em relação ao mercado financeiro globalizado como o universo paralelo das bitcoins, a moeda privada não garantida pelo Estado, pode desencadear um desastre catastrófico”, afirma.
A bitcoin é o equivalente contemporâneo, de perfil tecnológico, de uma pirâmide financeira antiga: ganha nela quem entra primeiro e sai primeiro. Ou, como exemplifica o professor: “o sujeito que entra paga pelo que sai. Na febre especulativa, sempre entra mais gente do que sai. Nos primeiros tempos desse mercado paralelo, é preciso que mais gente nova entre no processo para pagar as aplicações dos antigos, a preços cada vez mais altos. A percepção é de uma alta fantástica, sem limites”. Para Assis, é aí que vem o problema: “um ganhador desconfiado não volta ao mercado para comprar. Ninguém compra. Vem o estouro”, alerta.
Quando perguntado sobre até que ponto um mercado restrito como o da bitcoin pode afetar o gigantesco mercado financeiro globalizado, Assis é enfático: “Basta um percepto do lado errado, e o sistema de comunicação instantâneo do mundo atual faz o resto através da internet. Ordens de venda e compra se fazem de forma imediata num terminal de computador ou de um celular. Rapidamente os mais especializados na manipulação do sistema percebem uma manifestação estranha. É inevitável o efeito-manada", conclui.