Inútil teria sido qualquer tentativa de fuga de lidar com as questões estéticas presentes em todo projeto arquitetônico digno de nota (mesmo num país como o Brasil, acostumado ao desleixo com a beleza); a arte que corria no sangue da mãe, Tomie, desaguaria na arquitetura do primogênito, Ruy Ohtake (1938-2021), de uma forma ou de outra.
Mas a dimensão plástica de suas propostas seria só uma nota de rodapé, não tivesse ele se distanciado de alguns dogmas de sua Escola Paulista de origem, em favor do traço livre que rendeu edifícios de contornos curvos e cores pronunciadas (o uso delas certamente aprendido com o professor que Ruy citava até o fim: Vilanova Artigas). Transitar pelo interior de legítimas manifestações artísticas erguidas em concreto e metal – sejam residências particulares como esta (foto) em Brasília, conjuntos habitacionais de interesse social como os “Redondinhos” de Heliópolis ou equipamentos de lazer e cultura como o Hotel Unique ou o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo – seguirá um privilégio concedido a quem adentra suas obras.
Sem nunca perder de vista a qualidade estrutural e a responsabilidade social e urbana de sua arquitetura, o mestre conquistou ao propor a curva e a cor como instrumentos de uma busca por liberdade de expressão e de convivência. O legado de Ruy Ohtake permanece.
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