26/06/2024 às 17h56min - Atualizada em 26/06/2024 às 18h12min

O vício patológico em jogos aumenta e impacta nos afastamentos por distúrbios mentais

Os benefícios do INSS pagos a pessoas com doenças mentais por vício em jogos tem aumentado. Em três anos os casos saltaram. Qual o impacto para as empresas, trabalhadores e sociedade?

Cinthia Bueno Spadafora, Engenheira de Segurança do Trabalho e Diretora Técnica da Oncare Saúde
DA REDAçãO
Onc
O vício patológico em jogos aumenta e impacta nos afastamentos por distúrbios mentais
 
Os benefícios do INSS pagos a pessoas com doenças mentais por vício em jogos tem aumentado. Em três anos os casos saltaram. Qual o impacto para as empresas, trabalhadores e sociedade?
            O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tem pagado mais benefícios a pessoas com doenças mentais por vício em jogos. Em três anos os casos aumentaram 350%.
As empresas não podem demitir por justa causa os empregados com vícios em jogos de azar, por exemplo, já que se trata de uma doença, exigindo afastamento via INSS.
O transtorno “jogo patológico”, também conhecido como ludopatia, acontece quando há “episódios repetidos e frequentes de jogo que dominam a vida do sujeito, em detrimento dos valores e dos compromissos sociais, profissionais, materiais e familiares. A pessoa perde o domínio sobre o jogo, tornando-se incapaz de controlar o tempo e o dinheiro gastos, mesmo quando está perdendo”, segundo o Ministério da Saúde. É um distúrbio psiquiátrico que causa dependência semelhante à dependência química, como o vício em álcool e drogas.
Segundo levantamento recente do DataFolha o público mais suscetível é exatamente o mais economicamente ativo, ou seja, homens jovens. O estudo mostrou que 30% têm de 16 a 24 anos, e 25% entre 25 e 34 anos relataram já terem feito alguma aposta pela internet.
Mesmo com esses dados alarmantes a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou no dia 19 de junho último proposta que libera os jogos de azar no Brasil, como bingo, jogo do bicho e cassino. Foram 14 votos a favor e 12 votos contrários. O projeto cria regras para a exploração e mecanismos de fiscalização e controle dos jogos. Também estabelece a tributação das casas de apostas e de prêmios.
O texto agora seguirá para a análise do plenário do Senado. Se aprovado da forma como está, será enviado para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — uma vez que não houve alterações no conteúdo do texto pelos senadores.
Vício em jogos eletrônicos é classificado pela OMS
 
Os jogos eletrônicos também são uma ameaça, principalmente porque estão na palma da mão de qualquer trabalhador que faça uso de um smartfone, o que pode ser um fator desencadeador de acidentes no trabalho.
Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou o vício em jogos eletrônicos - game disorder - como uma doença classificada no CID – 11 (Código Internacional de Doenças), onde a pessoa é dependente de jogos eletrônicos.
De acordo com a Organização, “Para que o transtorno do jogo seja diagnosticado, o padrão de comportamento deve ser de gravidade suficiente para resultar em prejuízo significativo no funcionamento pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou em outras áreas importantes de funcionamento e normalmente teria sido evidente por pelo menos 12 meses.” Ou seja, é preciso que haja um acompanhamento por, no mínimo, 1 ano da pessoa, para que se verifique se realmente ela é viciada, ou se apenas joga muito.
Para o Dr. Ricardo Pacheco, médico, gestor em saúde, diretor da Oncare Saúde e presidente da ABRESST (Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança no Trabalho), essa é uma questão que não afeta apenas crianças e adolescentes, mas uma grande parcela de adultos. “Muitos ficam incapacitados para o trabalho, e assim, se forem afastados por causa do vício, podem ter direito ao recebimento do auxílio-doença, previsto no artigo 59 da lei 8.213/91 – Lei da Previdência Social, após passar por perícia no INSS e for constatado que realmente ele sofre de uma doença que lhe impeça de trabalhar”.
         “Contudo”, continua o médico, “até hoje, não existem decisões do INSS ou da Justiça sobre o pagamento de auxílio-doença para que é acometido do vício em jogos eletrônicos, já que não era considerada como uma doença, então, a partir do momento em que a OMS declara esse transtorno como uma patologia, acredito que possa sim ser estendido o benefício a essas pessoas”, acrescenta Dr. Pacheco.
O impacto do vício em jogos para os trabalhadores e para as empresas
A sociedade está percebendo o impacto significativo tanto para os colaboradores quanto para as empresas do vício em jogos.
Este impacto pode se manifestar de várias maneiras, influenciando a produtividade, o ambiente de trabalho, a saúde mental e física dos colaboradores, bem como as finanças e a reputação da empresa.
Dr. Ricardo Pacheco destaca a implicação que o vício em jogos tem nos trabalhadores. “São muitas as consequências: colaboradores viciados em jogos podem passar mais tempo pensando em jogos ou jogando durante o horário de trabalho, resultando em menor concentração e eficiência. Também acarreta problemas de saúde mental, já que o vício está frequentemente associado a condições como ansiedade, depressão e estresse. Essas condições podem afetar o bem-estar geral e a capacidade de realizar tarefas diárias no trabalho”.
O médico ainda destaca o efeito na saúde física, financeira e nas relações interpessoais. “A saúde desse trabalhador logo passa a sofrer as consequências, já que o comportamento sedentário associado ao vício em jogos pode levar a problemas de saúde física, como obesidade, dores nas costas e problemas de visão. Gastar excessivamente em jogos pode levar a dificuldades financeiras, que por sua vez podem causar estresse adicional e distrações no trabalho; e o isolamento e a redução de interações sociais, comuns entre aqueles que são viciados em jogos, podem prejudicar as relações de trabalho e a colaboração com colegas”, alerta Dr. Ricardo Pacheco.
Para Cinthia Bueno Espadafora, Engenheira de Segurança do Trabalho e Diretora Técnica da Oncare Saúde, o impacto do vício em jogos nas empresas é imenso. “Passa pela redução da produtividade, que pode afetar negativamente os resultados da empresa, atrasar projetos e comprometer a qualidade do trabalho. Aumenta o absenteísmo, pois colaboradores com vício patológico em jogos podem faltar ao trabalho com mais frequência devido a problemas de saúde ou pela necessidade de lidar com questões pessoais relacionadas ao vício. Também aumenta o presenteísmo, com colaboradores fisicamente presentes, mas mentalmente ausentes devido ao seu vício, que resulta em perda de produtividade”.
A engenheira ainda destaca o ambiente de trabalho tóxico e os custos de saúde decorrentes do vício em jogos no ambiente corporativo. “O vício pode levar a comportamentos antissociais e conflitos, criando um ambiente de trabalho negativo e reduzindo a moral da equipe. As empresas ainda podem enfrentar maiores custos relacionados à saúde devido ao aumento das consultas médicas e tratamentos necessários para colaboradores que sofrem de problemas relacionados ao vício em jogos. Sem contar a rotatividade de trabalhadores, pois os problemas contínuos relacionados ao vício em jogos podem levar à demissão ou afastamento voluntário de colaboradores, resultando em custos adicionais com recrutamento e treinamento de novos trabalhadores”, alerta Cinthia Bueno. 
Abordagens para mitigar os efeitos negativos do vício patológico em jogos nas empresas
         Dr. Ricardo Pacheco ressalta que as empresas podem prevenir as consequências do vício em jogos por meio da implantação de campanhas de conscientização. “Sempre orientamos sobre a importância de as empresas promoverem ações de orientação e sensibilização, oferecendo treinamentos e criando um ambiente de trabalho saudável e livre de preconceitos, além de implementar programas de saúde para acompanhamento e suporte aos colaboradores em tratamento”, destaca.
         “Oferecer apoio psicológico e programas de aconselhamento para ajudar os colaboradores a lidarem com o vício é uma excelente oportunidade, assim como realizar workshops e seminários para educar os colaboradores sobre os riscos do vício em jogos e como promover um estilo de vida equilibrado”, acrescenta a engenheira Cinthia Bueno.
         A Oncare tem um olhar voltado para os transtornos psicossociais nos exames periódicos que realiza. “Os nossos serviços de saúde nos permite identificar se o trabalhador – ou um grupo, está passando por um transtorno, como o de vício em jogos, por exemplo, e assim desenvolver uma abordagem específica, com o apoio de profissionais psicólogos e terapeutas”, enfatiza Dr. Ricardo Pacheco.
         A promoção de eventos coletivos também faz parte da estratégia da Oncare. “Ajudamos as empresas a realizarem palestras para seus times, inclusive sugerindo como tema para a Sipat (Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho) os distúrbios psicossociais, como o vício em jogos, prevenção, impacto e riscos, de levar a outras doenças e acidentes no trabalho. São ações que têm um efeito prático e que extrapolam os muros da empresa, conscientizando familiares e o entorno social do trabalhador”, esclarece a engenheira Cinthia Bueno.
 
Regulamentação das bets no País e as perguntas sem respostas
 
A Lei 14.790/23, sancionada com vetos pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tributa empresas e apostadores, define regras para a exploração do serviço e determina a partilha da arrecadação, entre outros pontos.
A norma regulamenta as apostas de cota fixa, conhecidas como bets, em que o apostador sabe exatamente qual é a taxa de retorno no momento da aposta. São apostas geralmente relacionadas aos eventos esportivos. A lei abrange apostas virtuais, apostas físicas, eventos esportivos reais, jogos on-line e eventos virtuais de jogos on-line.
Pelo texto, as empresas poderão ficar com 88% do faturamento bruto para o custeio da atividade. Sobre o produto da arrecadação, 2% serão destinados à Contribuição para a Seguridade Social. Os 10% restantes serão divididos entre áreas como educação, saúde, turismo, segurança pública e esporte.
De acordo com Dr. Ricardo Pacheco a pergunta que fica é: compensa? “Será que os 2% que serão destinados à Contribuição para a Seguridade Social vai compensar o número de afastamentos do trabalho devido ao vício em vertiginoso aumento? E as empresas, como vão gerenciar os postos vagos de trabalho e como vão acolher esse trabalhador? São questões que não foram respondidas até agora”, alerta o médico e gestor em saúde.
O vício patológico em jogos pode ter um impacto profundo tanto para os colaboradores quanto para as empresas. Ao reconhecer os sinais e implementar estratégias de mitigação, as empresas, com o apoio da Oncare Saúde, podem ajudar a minimizar esses impactos e promover um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.
 
Sobre a Oncare Saúde
Oncare Saúde é uma plataforma de solução integrada de saúde, que oferece consultoria para empresas. Inclui assistência médica e ações de promoção, proteção, recuperação e reabilitação.
Além de auxiliar as empresas na implementação do e-Social, a Oncare promove a proteção da vida e da saúde dos trabalhadores; ajuda as organizações a entenderem e cumprirem essas regulamentações, evitando problemas legais; fomenta a redução dos custos, já que menos acidentes significam menos despesas com tratamento médico, pagamento de licenças por doença e indenizações; propicia o aumento da produtividade; melhora a imagem da empresa; minimiza os riscos de litígios e promove a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável.
A Oncare Saúde é presidida pelo médico Dr. Ricardo Pacheco, CRM-SP 87570 I RQE 22.683.
 

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SANDRA MARIA DA CUNHA
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