09/11/2022 às 13h50min - Atualizada em 09/11/2022 às 13h51min

A ressignificação do morrer no pós-pandemia

*Por João Paulo Magalhães, sócio do Grupo Colina dos Ipês

SALA DA NOTÍCIA NB Press
A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, na obra Sobre a Morte e o Morrer, explica as cinco fases do luto, observadas diante da reação psíquica de pacientes em estado terminal: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. O sofrimento é parte constante da experiência humana e a dor não pode ser tirada dos nossos discursos. Essa oscilação entre dor e restauração é um processo saudável que busca o equilíbrio.
Os rituais, de velório e enterro, por exemplo, são importantes porque trazem a concretude da morte. Por mais dificuldade que um evento assim evidencie, é importante para o processo do luto. Nesses espaços, você está ao lado de pessoas amadas, em um contexto em que pode liberar seus sentimentos.
Durante a pandemia de covid-19, esse processo de luto se tornou mais difícil, levando em consideração o cenário de solidão e apoio social limitado. Especialistas explicam que a emergência sanitária gerou diferentes consequências que ampliam as perdas, como a impossibilidade dos ritos de despedida e da retomada da vida como era antes.
A Associação de Cemitérios e Crematórios do Brasil e o Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Acembra-Sincep) organizou, durante a pandemia, uma campanha estimulando os cemitérios a desenvolverem painéis virtuais com fotos e mensagens enviadas pelas famílias e pelos amigos em homenagem aos entes queridos.
Em 2020, o Dia de Finados foi celebrado com restrições sanitárias por causa da nova doença e deixou um vazio em milhares de pessoas enlutadas. Em 2021, com o avanço da vacinação e a queda no número de casos e mortes pelo coronavírus, a data foi de grande movimentação nos cemitérios em todo o Brasil, chegando a formar filas em diversas unidades.
Este ano, voltamos à normalidade de velórios e circulação de pessoas. Será um marco da retomada definitiva dessa data tão importante e com um adendo: a pandemia de coronavírus inspirou mais conversas sobre o significado da morte. Hoje, existe urgência de se falar sobre o viver e o morrer.
A proximidade maior da morte, com quase 700 mil vítimas da doença no país e 7 milhões no mundo, deixou as pessoas mais abertas a pensar e falar sobre o tema. Mesmo com barreiras virtuais, as famílias demonstram mais propensão para tratar do assunto, desde que tenham um espaço de confiança e se sintam acolhidas.
Atualmente, a influência cultural do catolicismo no país ressalta emoções difíceis nesta data, conforme aponta uma pesquisa de 2018. Segundo o estudo, 63% dos brasileiros associam a morte a sentimentos de tristeza, 55% de dor, 55% de saudade, 51% de sofrimento e 44% de medo. Em percentuais menores, estão sentimentos como a aceitação (26%) e libertação (19%).
Outras culturas celebram também a vida da pessoa que foi embora, não pesando apenas na morte. No luto, existe dor, mas também amor, gratidão, cumplicidade. Não é minimizar o sofrimento, mas considerar que a experiência não se limita a sentimentos deprimentes. Tudo cabe na vivência do luto.

*João Paulo Magalhães é sócio do Grupo Colina dos Ipês, empresa que busca proporcionar dignidade e respeito no momento mais difícil que uma família pode passar.
 
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