01/03/2024 às 14h19min - Atualizada em 03/03/2024 às 13h39min

Espetáculo Cartas da Prisão ganha apresentação em São José do Rio Preto

O documentário cênico, que mescla ficção e relatos reais de mulheres que sofreram diversas formas de abuso, será realizado em regiões do Estado com altos índices de feminicídio

Tangerina Conteúdo
Rafael Salvador
Espetáculo Cartas da Prisão, que retrata a troca de cartas amorosas entre uma mulher e um serial killer, ganha apresentação em São José do Rio Preto

O documentário cênico, que mescla ficção e relatos reais de mulheres que sofreram diversas formas de abuso, será realizado em regiões do Estado com altos índices de feminicídio

Créditos imagens: Rafael Salvador

No dia 06 de março, às 20h, acontece a apresentação do espetáculo "Cartas da Prisão" no Teatro Municipal Nelson Castro, em São José do Rio Preto. O solo, em sua quarta temporada, conta com texto de Nanna de Castro, direção de Bruno Kott e atuação de Chica Portugal. Promovido com o apoio do ProAC (Programa de Ação Cultural) e da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, essa iniciativa é parte das celebrações do Mês da Mulher. A escolha da cidade se deu em função da 7ª colocação no ranking de casos de violência contra a mulher, conforme dados de 2022 da Secretaria de Segurança do Estado (SSP).

Após dezenas de entrevistas, gravações, e-mails e chamadas telefônicas com mais de 100 mulheres, Chica Portugal e Nanna de Castro, constroem esse espetáculo que nos mostra a relação direta entre violência, virilidade, medo, patriarcado e dependência de mulheres que tentaram salvar homens violentos através do amor. O trabalho também destaca a complexidade das histórias envolvendo criminosos e suas vítimas, ressaltando que muitas delas estavam apaixonadas por seus agressores.

E fica a pergunta: a paixão já te fez perder o controle e confiar mais do que devia em alguém? 
O solo estreou durante a pandemia, em 2020, em uma versão online. Em 2022, teve sua estreia presencial no Sesc Santo André (SP). No ano seguinte, realizou o circuito das Fábricas de Cultura, na capital paulistana; participou do evento Março-Mulher em Guaratinguetá (SP), além de realizar apresentações durante a II Semana de Reflexão e Combate à Violência contra a Mulher no Teatro Feluma e na Virada Cultural em Belo Horizonte, ambos em Minas Gerais.
Em cena, Chica Portugal dá vida a uma atriz-performer chamada Rita, que realiza um espetáculo a partir de suas pesquisas sobre relacionamentos abusivos. O fio condutor da peça da personagem são cartas que foram encontradas debaixo do colchão de um presidiário em uma penitenciária de São Paulo. Trata-se da correspondência amorosa entre uma mulher que assina como “M” e um psicopata conhecido como “o maníaco da flor”, condenado por matar esquartejar mais de 40 mulheres.

A partir das cartas, Rita revela o relacionamento abusivo que viu a própria mãe viver com seu pai, o que fez a protagonista sair de casa muito jovem. O público acompanha a evolução do relacionamento entre “M” e o “maníaco da flor” e o desgaste da relação entre Rita e sua mãe – incapaz de deixar o relacionamento abusivo. E as histórias destas mulheres vão se tornando cada vez mais parecidas. Rita também traz para a cena depoimentos reais de outras mulheres que viveram experiências amorosas com abusadores, além de materiais diversos de pesquisa sobre o tema. Na colcha de retalhos que vai se formando entre todas as histórias, ela questiona a si mesma e o público sobre nossas possíveis e inimagináveis relações com o abuso como indivíduos e como sociedade. “Usamos a pesquisadora [Rita] como metalinguagem para que a atriz [Chica Portugal] se relacione diretamente com o público, quebrando, assim, a quarta parede, num misto de contação de história e palestra ficcional. Ao contrário da versão em vídeo, teremos a caixa preta, símbolo referencial do teatro, como um potente meio para que o espectador co-crie junto da obra, imaginando desde a ambientação dos espaços até as situações emocionais descritas nas cartas das três personagens interpretadas pela protagonista”, revela o diretor Bruno Kott sobre a encenação.

A respeito de uma de suas motivações para montar o solo, a atriz Chica Portugal, que também é idealizadora da montagem, menciona: “Incrivelmente não há uma mulher que eu converse sobre o assunto que não tenha passado por algum tipo de relacionamento abusivo. A maioria deles é velado, sutil – acabam sendo os mais difíceis de se notar, porque há uma tendência de normalização desse abuso quando não há agressão física. A maioria das mulheres deixa passar”. Já a dramaturgia de Nanna de Castro rompe propositalmente o limite entre realidade e ficção ao transitar entre depoimentos verdadeiros e fictícios, entre o noticiário e o poético. Obras como “Mulheres que Amam Demais”, de Robin Norwood, e “Loucas de Amor”, de Gilmar Mendes, são referências importantes. “Dentre as facetas das relações abusivas, sempre me intrigou as mulheres que se correspondem com criminosos sexuais confessos na prisão. É comum que assassinos recebam centenas de cartas de amor de mulheres que os conhecem apenas pelo noticiário. É como se o abuso fosse não apenas aceito, perdoado, mas acolhido. Não quero e não posso julgar estas mulheres, apenas convidar o público a partir desta situação extrema e refletir sobre nossa convivência com a violência e o desrespeito não apenas no nível pessoal, mas social”, acrescenta a dramaturga.

O número de casos de feminicídio aumentou 34% no primeiro semestre de 2023 no estado de São Paulo em comparação com o mesmo período do ano anterior, conforme dados da Secretaria de Segurança do Estado (SSP). Em 2022, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada dois dias no estado de São Paulo, totalizando 187 mortes. Depois da Região Metropolitana de São Paulo, o Vale do Paraíba, segue como a região mais violenta do interior de São Paulo.
Por este motivo, quatro das oito apresentações do espetáculo ocorrerão em cidades do Vale do Paraíba: Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Jacareí e São José dos Campos. Em terceiro lugar está Campinas, que abrange a Região Administrativa e a Região Metropolitana de Campinas, incluindo os municípios de Campinas e Limeira. A cidade de São José do Rio Preto ocupa o 7º lugar nas estatísticas de violência. Por fim, na Região Administrativa Central do estado, o município de São Carlos ocupa o 11º lugar entre as cidades mais violentas do Estado de São Paulo.

Oficina de autodireção teatral: apropriação da obra artística:
Com o propósito de explorar tecnicamente e artisticamente um processo criativo, o diretor, ator e dramaturgo Bruno Kott ministrará uma oficina entre os dias 19, 20 e 21 de março, das 14h às 18h, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo. A atividade incluirá exercícios de atuação, análise de textos, exploração de imagens e desenvolvimento de repertório criativo. O objetivo é capacitar atores, diretores e autores a mergulharem em processos autorais, com foco em se tornarem mais independentes e aptos a expressar suas criações de forma eficaz.
Destinado ao público geral a partir de 18 anos, os interessados devem redigir um e-mail ([email protected], com o assunto "Seleção para Oficina com Bruno Kott") incluindo sua experiência pessoal e, se aplicável, profissional. É essencial explicar por que desejam participar desse processo.

Para saber mais, acesse: https://www.projetoameialuz.com.br/cartasdaprisao


Serviço – Espetáculo “Cartas da Prisão” em São José do Rio Preto


06 de março, às 20h00
Local: Teatro Municipal Nelson Castro
Endereço: Av. Felíciano Sáles Cunha, 1020 – Jardim Novo Aeroporto – São José do Rio Preto/SP
| Gratuito |

Sinopse:
Em cena, Chica Portugal dá vida a uma atriz-performer chamada Rita, que realiza um espetáculo a partir de suas pesquisas sobre relacionamentos abusivos. O fio condutor da peça da personagem são cartas que foram encontradas debaixo do colchão de um presidiário em uma penitenciária de São Paulo. Trata-se da correspondência amorosa entre uma mulher que assina como “M” e um psicopata conhecido como “o maníaco da flor”, condenado por matar e esquartejar mais de 40 mulheres. A partir das cartas, Rita revela o relacionamento abusivo que viu a própria mãe viver com seu pai, o que fez a protagonista sair de casa muito jovem. O público acompanha a evolução do relacionamento entre “M” e o “maníaco da flor” e o desgaste da relação entre Rita e sua mãe – incapaz de deixar o relacionamento abusivo. E as histórias destas mulheres vão se tornando cada vez mais parecidas. Rita também traz para a cena depoimentos reais de outras mulheres que viveram experiências amorosas com abusadores, além de materiais diversos de pesquisa sobre o tema. Na colcha de retalhos que vai se formando entre todas as histórias, ela questiona a si mesma e o público sobre nossas possíveis e inimagináveis relações com o abuso como indivíduos e como sociedade.

FICHA TÉCNICA CARTAS DA PRISÃO
PROAC - CIRCULAÇÃO


Pesquisa e Atuação: Chica Portugal
Texto: Nanna de Castro
Direção: Bruno Kott
Cenário e Figurino: Kleber Montanheiro
Iluminação: Marisa Bentivegna
Desenho de Som: Juliana R.
Caracterização: Beto França
Preparação Corporal: Bruna Magnes
Preparação Vocal: Marilene Grama
Assistente de Figurino e Cenário: Marcos Valadão
Cenotécnico: Evas Carretero
Operação de som: Leandro Goulart e Juh Vieira
Operação de luz: Giovanna Clara
Voz Off poema: Nany di Lima
Música: Cálice Intérprete: Paula Mirhan, Composição de Chico Buarque e Gilberto Gil
Fotos de Divulgação: Rafael Salvador e Lyvia Gamerc
Assessoria de Imprensa: Tangerina Conteúdo
Designer: Milton Galvani
Redes Sociais: Ellen da Plot Comunica
Direção de Produção: Chica Portugal
Produtora Assistente: Bia Cordeiro
Realização: Programa de Ação Cultural – ProAC
Administração: Michelle Gabriel
Produção: Coletivo À Meia Luz
Redes Sociais: @cartasdaprisao @ameialuz.projeto

 
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